Pular para o conteúdo principal

“Mas e eu? Quem vai cuidar de mim?” Ah... Nisso eu não tinha pensado!



Acredito que o (para)texto da quarta capa do livro Ah... nisso eu não tinha pensado! foi bem econômico ao dizer que a narrativa e as imagens falam “apenas” sobre solidariedade... acreditem senhoras e senhores! Esse livro vai muito além de solidariedade!

A história começa com a descrição de uma cidade devorada por concreto e asfalto, e que antecede a história de um velhinho, morador de uma casa que é antiga e acolhedora, para os padrões das construções ao redor dela; com duas cerejeiras no quintal, um grilo morando perto da lareira e uma entrada sem muros e grades, sua casa ocupava um lugar desejado por uma grande construtora, que já o havia notificado sobre a desapropriação e também sobre o despejo. Mas mesmo que construtora tivesse prometido a ele um lugar adequado para morar, o velhinho estava muito triste, porque para ele, o lugar adequado era a casa dele!

Ele a tinha construído, lá tinha vivido com sua mulher e seus filhos, lá guardava todas as suas lembranças...

Quando a casa foi derrubada sob o olhar triste do velhinho, o grilo – ex-morador do buraco perto da lareira -, finalmente fez-se ouvir pelo homenzinho, perguntando quem cuidaria dele agora que a casa estava destruída. De dentro da mala, o velhinho tirou alguns lenços, fez uma boneca de pano e pediu a ela que cuidasse do grilo; assim como fez o grilo, a boneca de pano perguntou quem cuidaria dela, e o velhinho também foi em busca de um amigo para ela... depois da boneca, outros personagens, entre eles uma casa abandonada, aparecem para serem cuidados, montando uma narrativa que mostra como a solidariedade, o amor e a empatia são importantes para amenizar/evitar o próprio sofrimento e o do outro.

Ah... que delícia! Ah... que coisa boa ter um bom amigo, ter um amigo bom!

Esse livro lindo, escrito, originalmente, pelo francês Ludovic Souliman, que foi lindamente publicado no Brasil pela Editora Peirópolis, ilustrado pela Bruna Assis Brasil e traduzido pela Regina Machado, traz em sua ficha catalográfica a indicação da categoria Literatura infantil, mas ao lê-lo, me questionei quantos adultos precisam conhecer essa breve e importante história que ensina sobre solidariedade, pertencimento, sensibilidade, amizade... As ilustrações complementam o texto substancialmente, porque além de serem muito delicadas, conseguem fazer com que a sensibilidade dos personagens seja claramente notada e também a dureza com que a superficialidade da vida tenta esmagar essa sensibilidade, como se ela fosse desimportante. A junção do texto e da ilustração, enfatiza como são lindas as ações do velhinho que, mesmo depois de seu despejo, sai em busca de cuidados para seres que estão/são solitários e excluídos de cuidados!

O homenzinho bateu no ombro do gigante adormecido. Ele se levantou, parecia atordoado, gritando, cobrindo a cabeça com os braços, como para se defender.

Além dessas, esse livro belíssimo aborda outras questões como, por exemplo: por que o canto de um grilo não é ouvido, mas o som de uma moeda caindo no chão, no mesmo lugar, é? Segundo Souliman, tudo depende do que tem importância para cada um. Independentemente do que seja, o texto do autor francês deixa claro que não podemos nos esquecer do próximo e muito menos parar de lutar, de maneira honesta, pelo que determinamos ser relevante em nossas vidas: um livro, o canto de um grilo, uma música, um amigo...

Faça a você essas perguntas! Ensine ao seu pequeno leitor, se fazer essas perguntas! O que é importante pra você? O que sua sensibilidade e suas ações te permitem ouvir/enxergar? Suas ações te causam peso ou leveza?

Querer fazer o bem traz sempre complicações, mas não fazer nada é a pior das soluções.

Termino este texto citando o último trecho da quarta capa, que cabe perfeitamente em minha vida e em minhas importâncias:

A solidariedade! É a solidariedade de todos que vai permitir que o sonho de cada um se torne realidade.


Obrigada pelo mimo, Dona Peirópolis... os pacotinhos de vocês sempre aquecem meu coração!

Ficha técnica
Título original: Ah, ça...j’y avais pas pensé!
Título brasileiro: Ah... nisso eu não tinha pensado!
Autor: Ludovic Souliman
Tradução: Regina Machado
Ilustrações: Bruna Assis Brasil
Editora: Peirópolis

Com carinho, Cotovia Literária!

Comentários

  1. The Most Successful Sites for Crypto, Casino & Poker - Goyang
    Goyang Casino & Poker https://vannienailor4166blog.blogspot.com/ is septcasino one of the most famous and well known crypto gambling sites, goyangfc.com founded in 2012. casinosites.one They are popular because of their https://septcasino.com/review/merit-casino/ great

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Fique à vontade, mas não muito!

Postagens mais visitadas deste blog

Os machões dançaram (E bem mal, hein?!)

Mulher é minha causa. Mulher é meu dogma. Mulher sempre foi minha cachaça e meu comunismozinho.   No livro final da trilogia “Modos de macho & modinhas de fêmea” Xico Sá publica crônicas inéditas e também crônicas já reproduzidas no jornal El País e Folha de São Paulo. São crônicas sobre amor e sexo, que a maioria das pessoas podem julgar terem sido escritas para o público feminino. Mas se o público masculino se aventurasse nas leituras dessas crônicas, teriam muito a aprender, hein?!   O livro é uma afronta ao machismo e uma apologia à liberdade de amar, à sensibilidade e, principalmente, à mulher! Não, não é a sensibilidade de chorar por tudo, de mimimi… é sensibilidade no olhar, no tocar, no não tocar...   Em uma das primeiras crônicas, ele elogia Clint Eastwood (Quando a foto foi publicada, em 2012, o ator tinha 82 anos.), por recusar o uso de photoshop em sua foto na capa da revista “M” (Suplemento do jornal francês “Le Monde”). Na mesma crônica, ele menciona a

a bruxa e o espantalho (Que belezura!)

Costumo dizer que investir em um livro de imagem é uma excelente ideia, porque esse tipo de livro é infinito. Principalmente se o leitor for uma criança, porque a cada vez que a história for lida pela criança ou contada pra ela, a história será recebida por uma perspectiva diferente. Mais ou menos como quando relemos um livro e, após cada releitura, fazemos uma interpretação diferente dele. A bruxa e o espantalho é um livro de imagem, com capa dura, relativamente barato, traz as espetaculares ilustrações do artista mexicano Gabriel Pacheco  e que foi  publicado no Brasil pela Editora Jujuba .  As ilustrações de Gabriel Pacheco narram a história de uma bruxa que voava em “bando” com outras bruxas (Assim como as aves!) utilizando seu monociclo, enquanto as outras bruxas utilizavam suas vassouras. Mas em algum momento da viagem, essa bruxa diferentona se distrai com um passarinho, cai do seu meio de transporte diferentão e, além de ser duramente criticada, é excluída do bando