Mulher é minha causa. Mulher é meu dogma. Mulher sempre foi minha cachaça e meu comunismozinho.
No livro final da
trilogia “Modos de macho & modinhas de fêmea” Xico Sá publica crônicas inéditas e também crônicas
já reproduzidas no jornal El País e Folha de São Paulo. São
crônicas sobre amor e sexo, que a maioria das pessoas podem julgar terem sido
escritas para o público feminino. Mas se o público masculino se aventurasse nas
leituras dessas crônicas, teriam muito a aprender, hein?!
O livro é uma afronta
ao machismo e uma apologia à liberdade de amar, à sensibilidade e,
principalmente, à mulher! Não, não é a sensibilidade de chorar por
tudo, de mimimi… é sensibilidade no olhar, no tocar, no não tocar...
Em uma das primeiras
crônicas, ele elogia Clint Eastwood (Quando a foto foi publicada, em 2012, o
ator tinha 82 anos.), por recusar o uso de photoshop
em sua foto na capa da revista “M” (Suplemento do jornal francês “Le Monde”).
Na mesma crônica, ele menciona ainda uma certa esperança sobre os machões:
É, ainda há esperanças, velho Clint. Os machões ainda não dançaram de vez; apenas os machões caricatos que apostam em datas como o Dia do Orgulho Hétero e outros vexames do ramo.
Em vários momentos,
Xico Sá, sai novamente em defesa das mulheres (E em serviço dos homens!) mas eu
gosto, especificamente, de uma crônica que ele fala que as mulheres estão à mercê da “epidemia de
homem frouxo”:
O homem frouxo é quase uma abstração: sofre de um grave problema de comparecimento, de presença; o homem não passa de uma elipse de gênero, que retrocedeu à infância e morre de medo de tudo que desconhece.
Então, quando eu já
estava completamente apaixonada pelo livro, li uma crônica sobre os homens que
sofrem do que eu chamo de “crise de Mestre dos Magos”. Particularmente,
me identifiquei muito com a crônica, pois veja só, ele menciona os homens
fofos, que dão presentinhos e do nada desaparecem. Xico é até generoso, e tenta apoiar a “classe masculina”,
mas a crítica à falta de coragem (leia-se frouxice), é sensacional:
Sumir todo mundo some: homem, mulher etc. Mas na equação entre promessa e fuga ninguém supera a covardia - sentimental ou sexual - de um homem dito fofo.
Eu poderia ficar aqui
por várias páginas comentando sobre todas as crônicas, uma a uma, mas quero que
você (independentemente do gênero com o qual se identifica) pegue o livro pra
ler. Página por página, sem pular crônica alguma, aproveitando cada palavra de,
digamos, solidariedade escrita por esse cronista maravilhoso que é o Xico Sá.
Passe pela
valorização do pompoarismo, fio terra (A sociedade precisa
“despreconceitualizar” o fio terra, gente! Tanto homem por aí que gosta e finge
que não!); apologia às mulheres (TODAS as mulheres!), sobre o cerceio do medo,
a dificuldade que é enganar uma mulher, nocividade dos domingos…
Esse livro, na
opinião desta apaixonada leitora, é uma fonte de demonstração de amor e
dedicação às mulheres, e de conselhos aos homens (“esses moços, pobres moços” [Leia isto com a voz do Xico Sá, porque
faz toda diferença!]).
Não posso finalizar
meu texto, sem citar trechos de duas de minhas crônicas favoritas:
Perdão por ir tão direto ao ponto, caro leitor mais correto, mas o ‘me come’, seja homem, é o chamado da selva, a psicanálise selvagem depois de línguas e dedos, o grande cartaz da passeata, a redenção; você sai às ruas feliz com o cheiro dela na barba, você sai chutando as tampinhas da realidade para dentro dos bueiros, você mira com cara de safado a morena [...] ainda com aquele ‘me come’ a encobrir o barulho das britadeiras da cidade maquiada da beleza e do caos.
Amei, porém, aquele tão longe tão perto como a melhor das penetrações do mundo. Era preciso perceber o que separa um homem acordado e uma mulher desmaiada. Agora o travesseiro me diz todas essas coisas e sabe separar teu cheiro das minhas narinas à prova das melhores lavanderias do universo. Não tocar é estar mais que dentro.
Claro que são as minhas preferidas, e você, leitor deste
texto pode escolher as suas. Mas já aviso que é muito difícil tomar partido. Todas
as crônicas são repletas de amor, desejo e realidade. Verdades, que
dificilmente são assumidas (E, digamos, divulgadas.).
Ainda em tempo, quero
mencionar algo que julgo importante.
Certa vez participei
de um sarau em homenagem ao Xico Sá, que foi seguido por um bate-papo. Uma
das questões levantadas, foi a ausência de crônicas homoafetivas (Perdoe-me se
não uso a expressão correta.). Não me lembro exatamente qual foi a resposta do cronista,
mas fiquei pensativa sobre o assunto, e cheguei à conclusão de que a ausência
dessas crônicas, talvez ocorra pela falta de experiência, do Xico, em
relacionamentos homoafetivos. Xico Sá escreve
com muita eloquência sobre mulheres e os relacionamentos com elas, inclusive
narra algumas experiências particulares. Mas mesmo
de um livro sobre experiências heterossexuais, que exorta o amor, o desejo e que
é tão realista, possam ser retiradas reflexões para todos os relacionamentos.
Com carinho, Cotovia Literária.
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