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O que você faz em casa, você pode fazer no jardim?

O sol é para todos/Graphic Novel/Harper Lee/Fred Fordham/José Olympio

Essa cena da Scout com a srta. Maudie me lembra duas coisas: uma música do HG/Engenheiros (do Hawaii); algumas pessoas que conheço. Pode sentar. Lá vem textão. Sobre assédio moral no trabalho.

 

Se eu pudesse aposentar por quantidade de vezes que sofri assédio moral no trabalho, eu já teria aposentado há muito tempo... Pode calcular. Comecei trabalhar aos 13. Hoje tenho 39.

 

Ocorre que estou num rolê comigo mesma, de tentar deixar esse tipo de gente pra trás. Mas é difícil... bem difícil... sabe por quê? Porque meus assediadores (homens e mulheres, que fique claro) não podem fazer no jardim o que fazem dentro de casa e, creio eu, esse é um dos motivos de descredibilização da vítima (odeio essa palavra). Hoje há uma luta dentro de mim pra esquecer o que rolou e provar que não sou doida/mentirosa... provar que tenho caráter e tenho motivos de me sentir tão fragilizada. Porque assim... eu não quero que as pessoas em comum rompam laços com esses assediadores... só quero/preciso que minha palavra tenha crédito, apesar da boa aparência que essas pessoas carregam.

 

Tenho pensado muito sobre isso... sobre arrancar essa angústia do meu coração e, também, me sentindo muito idiota por ainda me deixar ser afetada por essa gente... aí hoje, enquanto fazia um nigucim pra comer, me veio uma luz (minha terapeuta ficará orgulhosa): eu tô assim, não é por carregar a mágoa dessa gente, é por querer fazer com que uma ou outra pessoa acredite em mim!

 

“Te demiti porque eu queria dar em cima de você!”

“Puxa saco é você, sua piranha!”

“Vai ter dia que você vai ficar sem almoçar? Vai!”

“SARA! EU TÔ FALANDO, SARA!”

“CÊ TÁ DOIDA, SARA! ISSO NÃO EXISTE!”

 

Para além disso, o tom de voz, o negrito, a caixa alta, o olhar, aquele obrigado (bem por obrigação)... Tive um chefe que jogou um vade mecum (aqueles livros do curso de direito que pesam uma tonelada, sabe?) em cima da ilha (aqueles móveis da Leitura, onde expõem livros) e por pouco não acertou minha mão.

 

É horrível tentar fazer sua palavra ter validade, quando seu assediador (homem/mulher) tem uma máscara de boa pessoa. O que mais ouço/ouvi: “Mas eu gosto tanto del@! Não acredito que el@ fez isso!”. Essas pessoas, que não são reais fora de casa, é que invalidam depoimentos de vítimas de assédio moral, assédio sexual, de estupro...

Eu tive o privilégio e a sorte de dizer chega pro meu último assediador (homem), mas muita gente não tem. Eu não tive... por muitos anos...

 

Assédio moral não é “só” grito, “só” palavrão e/ou xingamento. O assédio moral é o que ofende... é o que você faz pra ofender, porque você não presta! Assim como capitalismo não é só dinheiro!

“Bichos escrotos, saiam do esgoto!”

 

Ps¹: Não pedi revisão desse texto... e sinto muito se estou voltando pro blog com um assunto desses, mas essa cena da Scout está na minha cabeça há muito tempo... desde antes de eu dizer “Chega!”.

Ps²: Estou bem... e espero que você também esteja querido leitor! 

 

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