Ótimo Turcaret é o nome do gatinho e amigo
de Mafalda, a personagem principal e narradora do emocionante livro A
distância até a cerejeira. Quando vi esse livro pela primeira vez, fiquei
bem apaixonada por ele logo de cara, por conta do título e da singeleza das
capas. Demorei meses até saber do que se tratava, porque não gosto de ler
sinopse antes de ler o livro... fico com medo de que isso facilite minha vida
durante a leitura.
Nesse caso, novamente, fiz muito bem!
Obrigada!
Com seu primeiro romance, Paola Peretti me
envolveu completamente na história de Mafalda. Antes mesmo que eu começasse a
ler o segundo capítulo, a autora, italiana, conseguiu fazer com que eu me
entregasse ao universo de Mafalda, tão restrito e sensível. Os capítulos são
compostos por textos leves e acolhedores, e é surpreendentemente bom como as
linhas de raciocínio de Mafalda, em todos os âmbitos, são expostas e descritas
sem pedantismo e/ou monotonia.
Mafalda é uma criança de 9 anos, estudante
do quarto ano e portadora da doença de Stargardt - até o ano de 2019 a cura não
havia sido descoberta -, que deixa a pessoa cega gradativamente. Na história
Mafalda é consciente de sua cegueira completa e futura, e utiliza a cerejeira
do pátio de sua escola para saber como a doença está evoluindo: quanto mais
perto ela precisa chegar para enxergar a cerejeira, mais a doença está
avançada. Foi muito importante essa percepção pra mim, como leitora, porque a
cerejeira é que dá todo sentido às esperanças e ações personagem principal,
para quem os ambientes familiar e escolar são muito presentes.
É na escola, depois de muitas confusões
tentando fazer parte de alguns grupos - como o time de futebol dos meninos, por
exemplo – que a narradora-personagem mais desenvolve suas ações e histórias.
Não entendo muito de crianças, mas acredito que seja normal, na idade de
Mafalda, essa busca por aceitação e pertencimento; e essas buscas são muito bem
explicitadas pela autora que como eu disse, sempre usa a cerejeira como cenário
principal: é pra essa cerejeira que ela intenta fugir antes de ficar totalmente
cega, fala com sua avó que já foi morar no tronco (Não. Não vou explicar! Leia
o livro!), aprende quando é que a luta acaba (A luta acaba?), a fazer lista do
que pode fazer e não do que não pode fazer... e tantas outras
coisas incríveis... e lindas...
Além das questões sobre aceitação e pertencimento,
Paola Peretti descreve com muita delicadeza, força e precisão, os
autoquestionamentos feitos por Mafalda, que para se proteger e proteger os
pais, tenta omitir a evolução da doença... digamos que essa proteção causa a
ela alguns transtornos e a torna um pouco precipitada e rebelde. Mas todas
essas aventuras e esses aprendizados são narrados com muita criatividade e
sensibilidade.
A autora iniciou sua carreira de escritora
com um livro magnífico, que deve ser altamente divulgado no ambiente escolar
para que as diferenças sejam tratadas de forma mais abrangente e humana. Apesar
de a ficha catalográfica indicar o gênero Literatura infantojuvenil, é
imprescindível que adultos também leiam essa história, porque ela ajuda a
ensinar como usar o coração como olhos, quando a escuridão (ameaçar) cegar.
Esse livro é um primor de publicação!
Cheio de sensibilidade, bem revisado e bem diagramado; a paleta de cores das
capas é magnífica (E tem orelhas! A segunda orelha me fez entender onde Peretti
buscou tanta sensibilidade.) e as ilustrações do miolo são tão bem cuidadas
que, em minha opinião, mereciam a mesma paleta de cores que a Editora Planeta
usou nas capas. Também gostei muito das divisões do livro (partes e capítulos):
os títulos das partes, deram um norte sobre como a doença evolui e me preparou
para as emoções das próximas páginas; já os títulos dos capítulos, apesar de
serem levemente subjetivos, são muito intrigantes, e com a evolução da leitura
é muito fácil perceber porque esses títulos foram escolhidos.
A distância até a cerejeira com certeza está entre os livros que
tocam meu coração e me fazem pensar sobre “a vida, o universo e tudo o mais” -
Não usarei o passado, porque um livro sempre me causa alguma reação/mudança!
Ficha
técnica
Título
original: La
Distanza tra Me e il Ciliegio
Título
brasileiro: A
distância até a cerejeira
Autor:
Paola
Peretti
Tradução:
Flavia
Baggio
Ilustrações
de capa e miolo: Carolina Rabei
Comentários
Postar um comentário