Conhece
aquela expressão “Meu sonho de princesa”? Pois bem! Depois de ler o incrível,
poderoso, lindo e libertador Lute como uma princesa, quero usar essa
expressão o tempo todo! Porque agora sim, meus sonhos são parecidos com a vida
das princesas dos contos de fadas! Vita Murrow e Julia Bereciartu,
respectivamente autora e ilustradora dessa publicação maravilhosa que, no
Brasil foi lançada pela Boitatá, teve o inesperado poder de me fazer querer ser
uma princesa!
A
autora e a ilustradora fazem releituras de muitos contos de fadas que foram adaptados
pela Disney (é importante ressaltar que esses contos de fadas não foram criados
pelo Todo Poderoso Walt Disney) e que moldam inúmeras sociedades para que elas
se adequem a padrões comportamentais. Esse livro apresenta ao leitor várias das
histórias infantis mais famosas no mundo, mas que, desta vez, estão compostas
por personagens orientais, negros, pobres, homossexuais, cegos, ruivos, loiros,
brancos... É tanta diversidade e inclusão em um livro direcionado para o
público infantojuvenil, que eu nem soube lidar com a emoção que brotou em meu
coração. Consegui me identificar com cada uma das princesas apresentadas nessa
obra literária!
São
histórias incríveis com abordagens de assuntos como diferença, inclusão,
homossexualidade, adoção, medo... Enfim, todos os temas estão expostos nesse
livro de maneira lúdica, mas completamente condizente com o mundo real, e com o
intuito de fazer com que um mundo melhor e mais acolhedor para todos seja
criado. Temas tão merecedores de discussão entre os mais jovens (E por que não
entre os mais velhos?), mas tão pouco abordados em casa, na escola, na rua...
(“na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê” [Brincadeira!])
Logo
de cara, me identifiquei com o figurino da Belle (A Bela e a Fera), que além de
estilosa é corajosa e passou a fazer parte da corporação da Polícia do Reino
como investigadora, depois de toda sua história com a temida (Cof! Cof!) Fera -
sobre empatia, egoísmo, coragem e aparência/padrões de beleza!
- Porém, antes, gostaria de confrontar essa ‘fada’ de quem você está falando. [...]
Saindo
do reino terrestre para os reinos aquáticos, Marisha, A Pequena Sereia, mesmo
contra a vontade de seu pai, o Rei dos Mares - que repudia humanos -, trava uma
batalha em favor da limpeza dos oceanos junto com a princesa humana Melodia, e
se torna engenheira ambiental. Essa história termina com um casamento incrível,
que só coloca à prova todo o tipo de preconceito contra a mulher, que foi/é
alimentado durante milênios!
Quando chegaram à fábrica, a sereia começou a encaixar as peças do quebra-cabeças: lá eram produzidas mercadorias maravilhosas que enriqueciam o palácio, porém todo o lixo que geravam era jogado no mar.
E
quem não lembra do grito: “Jogue suas tranças, Rapunzel!”?
Rapunzel
que, desde criança, “construía cabanas com árvores e folhas onde podia
brincar” e empilhava coisas quando era obrigada pelo inverno, a ficar
dentro de casa, se tornou aprendiz da feiticeira Gotel, após completar a maior
idade. Mal sabia ela, que a torre alta onde morava e pela qual Gotel tinha que
subir escalando, revelaria uma profissão bem diferente de feiticeira (mas não
sem feitiçaria): Rapunzel fundaria uma empresa de arquitetura em parceria com
Estácio, um príncipe com deficiência visual. A arquiteta criou projetos para o
reino do Gato de Botas, o projeto da biblioteca pública de Aurora, entre tantos
outros! A descoberta do nome da empresa deixarei por conta da sua leitura
do livro, assim como a informação sobre o casamento (ou não) desses dois
personagens incríveis que têm as histórias baseadas na inclusão e no
empoderamento!
- Você é uma arquiteta totalmente excepcional e mágica! – falou ele. [O príncipe Estácio.]
E
com esses contextos e essas abordagens maravilhosos, o livro Lute como uma
princesafoi publicado! O projeto gráfico é lindo: com 2ª e 4ª capas
maravilhosamente ilustradas; e a diagramação ficou incrível, porque está
harmonizada com a ilustração. Senti falta de orelha (Sim. Eu sei que
encareceria o livro!) e do colofão tradicional, com o qual a Boitatá/Boitempo
sempre presenteia o leitor. É um livro bem editado, revisado e bem feito, como
já é o costume desse grupo editorial (Não é publieditorial! Juro que paguei por
meu exemplar!)!
O
Lute como uma princesa é o
tipo de livro que precisa ser adotado/utilizado no processo pedagógico das
escolas, mas não o será na maioria delas, sabe por quê? Porque a maioria do
corpo docente das escolas é retrógrado, preguiçoso e ganancioso! Se a escola de
seu filho/filha e/ou a escola que você administra foge desse estereótipo, peça
ao divulgador de sua cidade um exemplar para análise! Tenho certeza de que esse
livro não vai parar na prateleira de qualquer biblioteca, e fará com que pais e
alunos sejam seres humanos melhores!
Ainda
em tempo, quero e preciso ressaltar que, em meu entendimento, os contos de
fadas comerciais/tradicionais não são ruins, mas não podem ser a única forma de
representatividade da vida real para as meninas/mulheres e meninos/homens! E é
isso que o texto de Vita Murrow e as ilustrações de Julia Bereciartu nos
trazem: representatividade real, sem as letras miúdas que as imposições
da vida costumam trazer.
Ficha técnica
Título original: Power to the princess
Título brasileiro: Lute como uma princesa
Autor: Vita Murrow
Tradução: Daniela Gutreund
Ilustrações: Julia Bereciartu
Editora: Boitatá (Boitempo Editorial)
Com carinho, Cotovia Literária!
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