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Dado Villa-Lobos: memórias de um legionário


Como parte da introdução deste texto preciso (e quero) muito ressaltar, que a trajetória de vida do Dado é bem colocada nessa publicação. Suas experiências na infância e na adolescência são muito bem narradas por seus biógrafos! A história dele com a música, desde a herança familiar até os dias atuais, foi/é feita e contada com muito amor, dedicação e verdade! É como se a imagem que eu tinha do Dado Villa-Lobos tivesse sido ampliada depois de ter lido o livro.

*

O texto da apresentação do livro Dado Villa Lobos: memórias de um legionário me deu conta de como Dado (Serei íntima, ok?!) decidiu publicar o livro, e me arrancou lágrimas porque, pra mim, a admiração de um fã por um ídolo é um sentimento (quase) irrepreensível e extremamente admirável! E quando esse fã se torna um dos biógrafos de seu ídolo... ai... ai... que coisa mais linda!

Através de seus biógrafos, Felipe Demier e Romulo Mattos, Dado fala com muita clareza sobre momentos musicais que não tive a oportunidade de vivenciar (porque era muito nova quando a Legião Urbana surgiu), mas que, mesmo para os mais sortudos, aqueles que conseguiram acompanhar a trajetória da banda, a história de vida narrada nesse livro é muito maravilhosa!

Além de o livro todo ser muito bem contextualizado, musical e historicamente, também me deu bastante acesso ao panorama do cenário da música daquela época. As histórias foram organizadas, cronologicamente, desde a infância do Dado até alguns anos depois da morte do Renato Russo. Há menções a inúmeros acontecimentos marcantes não apenas para a banda, mas também para a história da música brasileira; além desses acontecimentos marcantes, há histórias, digamos, periféricas que acrescentam certo requinte e enfatizam a importância de Dado Villa-Lobos (Principalmente, óbvio!), Marcelo Bonfá e de Renato Russo para a existência da Legião Urbana, banda que considero incrível!

Uma das histórias de que gosto muito (Aliás, ela faz parte de um capítulo que remonta como o prestígio que o Renato tinha/tem entre o Dado e o Bonfá foi criado.), conta sobre os estudos de francês do Dado. E gosto muito dessa história, não (só) porque ele estudava francês, mas porque quando li parecia que eu estava vendo o Dado e o Renato conversando:

Eu estava com um livro que reunia as obras completas do Baudelaire, em francês [...] Quando o Renato chegou e viu aquilo na minha mão, perguntou imediatamente: ‘O que você está lendo?’ Eu disse: ‘Baudelaire, cara.’ Ele me olhou e emendou: ‘Ahhh, não é possível, meu Deus, mas como isso?’ O Renato ficou empolgado e orgulhoso com o fato de o guitarrista da banda dele ler Baudelaire no original (eu estava tentando não desaprender o francês).


Na cabeça de uma pessoa que gosta tanto de ler (e de livros), como eu, o fato dessa memória ser tão nítida pro Dado, mesmo depois de tantos anos, só reforça minha ideia de que tudo nesse livro tem muito amor e verdade! Nessa mesma época, Dado passou no vestibular da UnB e recebeu do Renato o convite para formar, junto com Marcelo Bonfá, a Legião Urbana...

Também gosto muito da forma como a história do Dado e da Fernanda (sua esposa) é contada... É muito, hum..., simbólica?! (Sim! Acho que é uma boa palavra!). Fiquei imaginando os dois se conhecendo no Napalm (“[...] um buraco meio punk no centro de São Paulo [...])”, na primeira apresentação da Legião fora de Brasília e com o João Gordo trabalhando no bar... Caro leitor, esse é um cenário muito maravilhoso... surreal! O fato é que a Fernanda se tornou produtora da banda e o casamento dura até hoje! Além de tudo isso, Fernanda e Dado foram muito parceiros do Renato, e a “Fernanda” da música “Leila”, é a mesma Fernanda que foi programadora do Napalm, numa época em que:
 O gosto musical, acho que para todos nós, naquela época era muito relevante na hora de fazer amizades.


Acho todas as histórias contadas nesse livro incríveis, mas gosto ainda mais de como elas parecem ser tão significativas, emocionalmente, pro Dado! O rumo que a vida dele tomou e a percepção que ele aparenta ter tido (e tem), é muito emocionante pra mim. O modo como as canções legionárias foram tomando vida e sendo absorvidas não só pelos três, mas também pelos fãs... Pra mim, enquanto fã, é importante saber que o músico/autor tem noção de como interfere nas vidas de quem o ouve/lê!

Em 1987 Dado foi visitar o Savalla, que trabalhou como engenheiro de som da Legião naquela tour, e morava em Vargem Grande (“[...] um bairro quase zona rural da Zona Oeste do Rio [...]”). E vou transcrever o trecho que conta esse episódio, porque o associei, na hora, a uma história do Humberto Gessinger que foi publicada em um de seus livros: também em 1987, o Humberto conta que estava caminhando por Copacabana quando ouviu um som que pareceu a ele familiar... a porta de metal do lugar estava aberta pela metade e lá ele viu um pedreiro trabalhando suado, com poeira no rosto e ouvindo “Terra de gigantes”: “Aquela cena me bastava para resumir o sucesso: minha música chegando aonde eu, à paisana, pessoa física, não chegaria. Asas generosas.” (Humberto Gessinger; Seis segundos de atenção; Editora Belas-Letras; 2013).

Nesse mesmo sentido, a experiência do Dado foi com a música “Índios”:

Enquanto eu esperava o portão da sua casa se abrir, passou em frente ao meu carro um peão que carregava uma enxada e ouvia ‘Índios’ no seu radinho de pilha sintonizado em alguma estação AM – o cara estava tranquilo e parecia conectado com o que ouvia. Nesse momento, eu percebi que a Legião tinha finalmente deslanchado, e que não havia mais volta.


Gosto de como as bandas que ouço têm percepções semelhantes sobre algumas coisas! Acho bonito!

O livro do Dado também relata alguns acontecimentos mais famosos, como o show fatídico em Brasília, histórias dos shows, das tours e da feitura de todos os discos... Ai... ai... que coisa linda de ler! Cada página carregada com forte teor histórico/musical e em um cenário que foi, e é, tão inesquecível quanto importante pra todo mundo que aprecia boas histórias e música brasileira.

O estilo de escrita do último capítulo está mais a meu gosto: eloquente e pessoal. Dado comenta abertamente sobre a situação dos direitos autorais da banda, que foram tomados (Me recuso a usar o termo “reivindicados”!) pelo filho do Renato, sobre algumas questões políticas e sobre como tocou/toca a vida profissional depois de tudo o que aconteceu. É um belíssimo capítulo de encerramento para um livro que me fez questionar, ainda mais, o posicionamento egoísta e escroto (Nossa! Um palavrão! “E daí?”) do herdeiro do Renato. Esse livro me fez pensar sobre como as pessoas não entendem/absorvem as músicas que ouvem, os livros que leem e as pessoas que passam em suas vidas!

Quando ele começou a cantar o primeiro verso de ‘Tempo perdido’, eu olhei a primeira fila e vi que as pessoas estavam chorando. Fiquei impressionado por vê-las se entregarem dessa forma ao ouvir nossa música. [...] Não, aquilo era realmente uma comunhão sentimental, emocional. O público tinha absorvido a nossa mensagem e estava totalmente envolvido. [...] Eu logo tive a intuição de que seríamos obrigados a lidar com esse sentimento sempre. Ele estaria presente entre os nossos fãs até o fim da banda, e certamente existe ainda hoje para muitas pessoas.


Certa vez, eu ainda não tinha lido o livro, uma pessoa muito querida me explicou que Dado e Bonfá são pessoas muito tímidas e introspectivas, quando perguntei se eles se importavam em atender o pedido de alguém para uma foto, então emendei: “Mas eles sabem que eles são duas entidades, que eles são patrimônio musical do Brasil, né?!”. Um mês depois dessa conversa, terminei o livro e tive a boa sensação estranha de que meu coração escolheu os artistas musicais certos!

[...] Aliás, aquele Renato da excursão ao Nordeste no ano anterior estava longe, em outro canto, não mais ali. Entre outros motivos, talvez o nosso vocalista estivesse ciente – como eu estava – de que a Legião tinha se convertido em um patrimônio do público, que sobreviveria para sempre, independente de nós.


A experiência de leitura desse livro, pra mim, foi incrível e reveladora... Além disso, fortaleceu meus sentimentos por Bonfá, Dado e Renato! Obrigada por esse livro, Dado, Felipe, Fernanda e Romulo!

VIVA LEGIÃO URBANA!

Ficha Técnica:
Título: Dado Villa-Lobos: memórias de um legionário
Autor: Dado Villa-Lobos; Felipe Abranches Demier;  Romulo Costa Matos
Fotos (do livro): arquivo pessoal
Editora: Mauad X
Este texto foi revisado por Lorena Almeida!


Com carinho, Cotovia Literária.

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